À Comunidade de alunos da UERN, à imprensa, à população
 Uma carta rosa, em letras bem pretas!
Sustentada no único e insólito argumento da “herança maldita”, a representante do executivo estadual segue no leme de um Titanic que já avista a ponta de seu iceberg. Acuada pela pressão popular, que registra 60% de reprovação com um governo desgovernado, a senhora Rosalba dispara mentiras num ventilador que espatifa miudezas aqui e ali e vive a tentar acreditar ou fazer acreditar que ainda não está fazendo o governo que deseja.
Recentemente, em Assú, durante a entrega do Conjunto de casas populares, num palanque enfeitado para um número de partidários (e outros para quem a adjetivação pode ser precária), a Rosa – apoiada no serviço de som, no cenário, na presença de bandas populares e revestida da carapaça de boa moça que constrói casas para os pobres – aventou as inverdades sobre a greve da UERN e jogou nos professores a responsabilidade pelo seu ato covarde e nada republicano: o descumprimento do acordo celebrado em setembro de 2011.
O mais engraçado no comportamento desse governo é, de fato, a falta de cuidado com o que anuncia em seu próprio site na internet quando deseja choramingar ou quando se propõe enaltecer sua atuação: ora se veem matérias que mostram um estado que tem aumento de 28,9%, no mês de abril, em exportações, perfazendo um total de 90,5 milhões de DÓLARES, ora se vê a governadora pregando à boca miúda o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal para não cumprir acordos de reajuste salarial. Ou seja, quando pretende se mostrar em palanque, o Estado cresce; quando precisa negociar, o Estado está quebrado pela administração anterior, e ela (senhora das mãos limpas – como costuma se designar nos concertos de pão e circo) não pode fazer nada porque é cumpridora da lei.
É bom que a população saiba que professor da UERN não ganha rios de dinheiro (de seu último pronunciamento, ficou uma preocupação com a segurança dos professores – tem gente com medo de ser assaltado pelo que não tem, e já deve ter quadrilha que se organiza para roubar professor milionário da UERN).
É necessário que a população saiba que o limite prudencial da Lei de Responsabilidade fiscal é só um número, acompanhado de conceitos bonitos, e que virou fórmula matemática (de contabilidade pública estranha) para não cumprir o prometido em setembro de 2011. Devem ser os “equívocos de comunicação e alguns equívocos pontuais”, somados “à falta de articulação política”, num diagnóstico feito pelo senador José Agripino Maia (do partido da governadora) que constitui um Conselho Político, cuja missão é ajudar a governadora a administrar. Só para ilustrar a falácia do limite prudencial, em reunião com a ADUERN, reitor e representação de alunos, o tal limite foi apresentado aos presentes através de uma matéria de jornal Folha de São Paulo, que indica um gasto com pessoal, no Estado, beirando 48,35% do orçamento.
Como mulher zelosa da probidade, a senhora Ciarlini deveria ter mostrado um comunicado do Tribunal de Contas alertando de que o Estado estaria a chegar ao denominado “limite de alerta”, já que a Lei de Responsabilidade Fiscal autoriza do Tribunal de Contas a fazer esse expediente e não à Folha de São Paulo. Como senhora das mãos limpas e dos argumentos coerentes, a senhoria do governo deveria ter claro que “limite de alerta” (48,6%) é uma coisa e o “limite prudencial” é outra que equivale a 51,3% (conferir Lei de Responsabilidade Fiscal). E aqui volta a contradição na fala do governo que poderia ser resolvida se as seguintes questões fossem respondidas: quando aumentam exportações não aumenta o orçamento do Estado? Por que será que a única coisa que aumenta nesse governo é o limite de alerta? Ou por que será que, em proporção ainda maior, só aumenta a reprovação da governadora?
A mulher que discursou no cenário das casas populares, em Assú, não é a mesma que lançou o edital da duplicação da RN-013, em Mossoró. Em Assú, a senhora do executivo estadual não reconhece a legitimidade da greve; em Mossoró, gravou para o Jornal O Mossoroense a falácia do século (“quando eu digo, eu cumpro; já é lei” – referindo-se ao acordo de setembro passado).
É difícil acreditar num governo que teve tempo (setembro/2011 a abril/2012) para encaminhar a Assembleia Legislativa do Estado um projeto de lei concedendo parcela de um reajuste negociado para três anos e não o fez por pura ingerência (a Governadora parecia nem saber, já que comprometeu a palavra de profeta na própria terra). É difícil acreditar numa governadora que diz “A reivindicação é justa, queremos atender no que for possível dentro da legalidade e, acima de tudo, não queremos que os alunos sejam penalizados com mais atrasos no semestre letivo que está para começar” (reunião em 02 de maio/2012), e depois, afirma "A Uern custa meio milhão, por dia, e quase R$ 15 milhões, por mês. Não é justo que o professor ganhe o salário sem trabalhar e o aluno não tenha aula. Isso eu não vou aceitar”[8] (no palanque de Assú, em 11 de maio/2012).
Engraçado é que a Governadora estufa o peito para informar que resolveu “aberrações que estavam gerando um desfalque de mais de R$ 1 milhão ao mês para os cofres do estado”, só na folha da Secretaria de Educação. Aqui é preciso explicar para a governadora a diferença entre gasto e investimento: quando ela cortou salários, férias, gratificações de pessoas de 102 anos, que não trabalhavam na SEEC ela resolveu um problema de gasto (dinheiro que não retornava); na folha da UERN ela tem uma questão de investimento a ser resolvida (investimento na qualificação dos jovens do Estado, já que a UERN é a instituição de maior abrangência no ensino superior no RN).
Converter gastos em investimentos é uma receita para quem sabe governar. No RN a governadora só conhece feijão-com-arroz no fogão de lenha: pra ela investimento é só em viaduto, em copa do mundo, em estrada duplicada, em ampliação do porto, do aeroporto... Essa senhora eleita pelo povo não entende que sem gente qualificada para executar tudo isso, o dinheiro que é daqui vai para fora, no bolso daqueles que se prepararam em boas instituições de ensino.
A governadora está perdida entre a identidade de prefeita (que foi um dia) e sua nova condição. Há princípios que se aplicam na gestão de uma cidade que não se aplicam na gestão de Estado da federação e vice-versa. Se ela não encontrar logo o caminho que a leve para fora desse “buraco de coelho”, vamos continuar nas mãos de uma “Alice” que segura em suas mãos a caixa aberta de “Pandora”.
E para quem ainda acredita na história de jogar o povo contra o povo, quero lembrar a história do rapaz que estava atrás de outros numa fila de hospital: o que estava atrás se maldizia de quem estava na frente em vez de reclamar da morosidade do atendimento. Na situação atual do estado é a mesma coisa: não adianta ao povo achar que somos os culpados pela greve – somos todos vítimas numa fila – alguns mais adiante, outros mais atrás e todos prejudicados.

SUGADO DO SITE DA ADUERN