"Um Pequeno Resumo De "a Geografia Ativa" , A Obra Máxima De Pierre George"

Pierre George é um importante geógrafo que escreve na segunda metade do século XX. O seu trabalho está mais presente nos campos da geografia econômica, geografia da popualação e em algumas discussões sobre a epistemologia da geografia.O presente trabalho tem o intuito de apresentar as ideias principais de A Geografia Ativa, em uma forma de resenha, para mostrar o leitor as principais características, e, assim, apresentar, mesmo que de uma forma inicial e introdutória, esse grande ícone.  
Autor: Felipe


Introdução:
O autor escreve este livro na segunda metade do século XX, observando as mudanças no mundo, e consequentemente, as mudanças que ocorreram e deveriam ocorrer na geografia, principalmente para interpretar e analisar esse “novo mundo”. Para George tudo deveria ser reconsiderado neste novo momento, ou seja, deveria existir uma espécie de revisão dos limites, dos métodos, dos objetivos, das relações da geografia com outras disciplinas etc.(GEORGE 1975)
Inicialmente o autor destaca que o papel do seu livro é salientar a importância da geografia para quem não a compreende, e desconhece o seu papel, e paralelamente, alertar o geógrafo de suas responsabilidades.

Geografia e suas correntes
O autor preocupa-se em localizar as raízes da geografia, que estão diretamente ligadas a construção de mapas e a ideia de descrição. Logo, o autor parte da ideia de descrição para definir duas correntes principais, que podem ser consideradas como uma “orientação de pesquisa”. Assim, o autor nos diz a respeito dessas duas correntes que: “a primeira abrange relações de causalidade e pode ir até o desejo de formulação de leis da geografia; a segunda se afirma mais diretamente utilitária.” (idem p.9)
Mas será que podemos agrupar os autores em uma corrente? Pierre George mostra as características gerais de cada corrente: as relações complexas entre os dados de caráter físico, processos de causalidade com pontos de partidas diferentes, inter-relações, ideias de dinâmica da natureza (da complementaridade dos fatores naturais) etc., porém, adverte, através da especificação de cada autor “importante” e de seu método de pesquisa, que cada geógrafo possui sua especificidade e semelhanças com outros geógrafos.
Segundo George, temos como representantes das ciências das leis: Humboldt, que descrevia o mundo físico, e pensava que o homem deveria se adaptar ao meio e transformá-lo; Ritter, que promovia a relação da geografia com a história, logo, sua descrição partia desse princípio; Ratzel, Hettner e Huntington, que elaboravam leis envolvendo o clima, a morfologia e a sociedade, portanto, segundo esses autores, a partir da descrição e da procura de leis era possível explicar os processos ocorridos no mundo. Para George, há um abandono do caráter enciclopedista de Humboldt nos trabalhos desses últimos autores, que receberam o título de deterministas.
A geografia francesa era vista pelo autor de outra forma, descritiva, porém sem o uso de leis, para George, era assim classificada a geografia de La Blache, Demangeon e Jean Brunhes, que, ainda, “representam diversas formas desta busca das relações múltiplas entre a natureza, a história e as combinações sociais e econômicos do presente, e, por consequência, da descrição dos fenômenos motores e dos mecanismos.” (GEORGE 1975 p.11) É uma geografia estritamente explicativa, que não tinha a pretensão de formular leis.
A segunda corrente destacada por Pierre George é da geografia utilitária, que consistia em “reunir elementos de conhecimento do mundo para facilitar operações de finalidade várias”(idem p.11). É tido como exemplo a geografia econômica, a geografia comercial, que inclusive possui vínculos com empreendimentos, instituições etc. Para o autor a pior caricatura dessa geografia, chamada também pelo autor de geografia aplicada, era a geopolítica, que justificava os atos da primeira metade do século XX, por exemplo.
A partir desse ponto, o autor faz uma reflexão sobre a especialização, e o questiona: A aplicação profunda em um campo apaga a originalidade do discurso geográfico? George responde que há uma perda da originalidade nesse sentido, já que o geógrafo é o homem da síntese. Nesse sentido, é viável para o autor que o geógrafo percorra e discuta com várias disciplinas, sem se aprofundar muito, já que o papel do geógrafo é passar uma visão ampla, sendo o “olhar geográfico” um olhar mais amplo do que restrito,mais superficial do que profundo, mas pertencente à reunião de olhares do que um olhar especial.

O Objeto e o método da Geografia
Esse subtítulo indica a tentativa de George de situar a geografia, o olhar geográfico, objeto e o método da ciência, no meio dessa ideia de geografia de síntese. Logo, o autor lança alguns tópicos com o fito de auxiliar a essas definições, por conseguinte, trataremos de todos os tópicos de forma resumida.
A primeira ideia lançada por Pierre George é que a geografia é uma ciência humana, logo, o estudo geográfico é estudo sobre a sociedade, de uma forma mais completa, da relação da sociedade com o ambiente, das situações, das correlações da sociedade com o meio (meio com uma multiplicidade de fatores naturais). A complexidade do estudo de geografia, para o autor, está na múltipla relação que as coletividades humanas possuem com vários elementos naturais ao mesmo tempo.
Para isso, “a geografia aparece assim como uma ciência do espaço, em função do que ele oferece ou fornece aos homens e como uma ciência da conjuntura e do resultado das sucessões de conjunturas.” (p.16)
Não é apenas uma ciência do espaço, é, sobretudo, uma ciência que estuda o espaço de forma distinta das ciências naturais, partindo das partes para chegar ao todo, ou das suas “peças”, e acima de tudo, estudando mais as correlações dos fenômenos, do que os fenômenos propriamente ditos, por conseguinte, esse seria o limite para George do envolvimento da geografia com as outras ciências, em que a geografia, de certa forma, se apropria, por causa da ideia de ciência de síntese e “o geógrafo deve ter uma competência, que lhe torne inteligíveis, simultaneamente, processos geológicos, climatológicos, hidrológicos, biológicos”. (p.17)
George levanta, no terceiro e quarto tópicos, que a geografia é o prolongamento da história, fazendo referência à evolução de catástrofes naturais, e, decisivamente, a história das técnicas, que para o autor é a chave do entendimento das modificações das relações entre as coletividades humanas e o seus respectivos ambientes. Logo, a situação atual de desigualdade de distribuição das técnicas só se explicaria através da história do desenvolvimento desigual das técnicas, deste modo, esse exemplo é significativo para compreender que o uso da história sempre será oportuno e essencial para a geografia.
O geógrafo assim “é o historiador o atual”, expressão de George, que acrescenta sobre a necessidade do geógrafo prosseguir com os estudos do historiador, aplicando métodos que lhes são próprios.
No quinto e sexto tópicos, o autor aborda a questão das situações, que seria outro fator que distingui a geografia das outras ciências, e, sobretudo, o ponto inicial do seu método, o caminho a ser percorrido pelo geógrafo. Poderíamos, a título de provocação, questionar se as ideias de situação e correlação são as chaves para o entendimento da concepção de geografia em Pierre George, juntamente com a ideia de ciência de síntese? E adicionalmente questionar também se essa concepção, se firmada como concepção de Pierre George, deve ser a concepção da geografia atual? Perguntas a serem respondidas...
Prosseguindo na ideia de situação, George relaciona a movimentação e extrema transformação do mundo atual, (citando a eletrônica, a automação, o trabalho, a natureza entre outros fatores), com a ideia de uma geografia ativa, o título do livro, e praticamente o nome de um movimento.


Conclusão
Para concluir, iremos abordar a parte final do texto onde George retoma algumas ideias. O autor intitula essa última parte de “Competência e responsabilidade na análise e na síntese”, ou seja, continua trabalhando com as responsabilidades do geógrafo, e com a ideia de geografia de síntese.
George ainda assinala que o grande problema da geografia é, por exemplo, estudar dentro de um espaço definido, todas as relações de causalidade dos fenômenos de consumo no sentido mais amplo do termo, o que teria como pressuposto, o estudo da produção, de recursos, de grupos históricos etc. Assim, o autor nos leva a crer que a superficialidade e a enorme gama de responsabilidades, conteúdos e correlações da geografia serão os grandes obstáculos do estudo geográfico.
Quando o autor aborda a questão do espaço definido, ele basicamente refere-se ao conceito de região, o que deixa bem claro o seu vínculo com a geografia regional, e decisivamente, com a geografia francesa de La Blache, Demangeon e Brunhes, e, paralelamente sua crítica à algumas ideias dessa geografia ( que é o caminho básico do texto, um movimento de aproximação e afastamento da geografia clássica). Seria uma nova visão de região, possivelmente mais dinâmica, levando-se em consideração alguns fatores e deixando de lado outros, que seriam ultrapassados.
Por último, George destaca o hiato entre a geografia escolar e a pesquisa universitária, criticando o primeiro como uma grande bagagem de conhecimentos formais, que dão uma imagem deformada da geografia, e estão obsoletos no ponto de vista teórico.

Referência Bibliográfica:
GEORGE, Pierre. A Geografia Ativa. 1966. Editora Difusão.

URL do Artigo: http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/um-pequeno-resumo-de-a-geografia-ativa-a-obra-maxima-de-pierre-george-1430175.html