Este blog já disse anteriormente que os egípcios sairam da panela, para cair na frigideira, e foi acusado de estar gorando os coitados daquele país, gorando sua luta justa.
Justíssima, aliás.
Mas não é porque é justa, que vai mudar alguma coisa na história. Fosse
assim, não teríamos nós mesmos, tido ditadura, nem a Argentina e o
Chile (extremamente cruéis), nem o próprio povo americano teria sido
obrigado a engolir o canalha chamado Bush filho. Exemplos de pilhagem
injusta temos aos montes em talvez, todos os países do mundo.
Hoje escuto a história de que o exército egípcio, o mesmo que se
dividiu em estar do lado do povo contra Mubarak e assessorá-lo na
crueldade durante tanto tempo (e ainda atualmente), prendeu dois
manifestantes que ainda insistiam em permanecer na praça que serviu de
palco para os protestos contra o ditador financiado e apoiado pela
grandiosa e democrática América. Não nos esquecendo dos grandiosos e
democráticos mandatários de Israel, que reclamam do Irã por ser um
estado que confunde religião com governo. E Israel, claro, não faz isso.
Ora, mas se acabou a diatura, duas pessoas não podem permanecer numa
praça de seu país? Eu achava que sim. Que era próprio dos regimes
democráticos permitirem inclusive, protestos contra o governo, sem ter
que prender ou assassinar ninguém.
Parece que não.
Porém, não é o foco do comentário de hoje sobre este ingênuo país, que terá muito o que enfrentar, ainda.
O foco do comentário é a onda de privatizações e assolamentos que o
chamado livre-mercado, irá impor ao povo iludido e esperançoso daquela
nação tão valorosa.
Primeiro porque sabemos que o Egito não é nenhum lugar rico. E segundo,
porque toda democracia que se preze (segundo o entendimento de
Washington e também do PSDB) precisa ter um Estado mínimo e
praticamente nenhuma regulação. Isso sim é um lugar democrático. Os
ricos fazem o que querem, porque a palavra "livre" do livre-mercado só
serve a eles, e os pobres que se explodam pagando absurdos por serviços
que deveriam estar incluídos nos já caros impostos que são pagos pelos
menos afortunados.
O receituário é básico. Como uma boa ditadura depende de um Estado
forte e arrecadador, por lá o negócio não parecia ser diferente. Mas
agora sim é que a porca vai beber água. Porque o FMI já se escalou
dizendo que vai ajudar a reconstruir o país. Nós sabemos como é o tipo
de reconstrução apoiado pelos bandidos de Washington. Os juros do
empréstimo são sempre, de pai para filho, mas as exigências paralelas
são draconianas. Ou seja, o povo que se prepare porque tudo será
vendido ou doado graciosamente aos amigos do rei, especialmente os
serviços que possam ser cobrados fabulosamente, não importando se
haverá fome, recessão, sede, penúria ou desespero. Não vão nada longe
os tempos em que as populações da Rússia, da Polônia, da Tailândia, da
América Latina inteira e de tantos outros lugares comeram o pão que o
diabo amassou, para tentarem entrar na tão sonhada democracia.
E como o cidadão comum associa sempre democracia com capitalismo, os
egípcios também serão obrigados a engolir mais esta. Não que hoje o
país seja comunista. Obvio que não é. Mas o que lhes espera é a face
mais cruel do capitalismo. O capitalismo "de patota", como bem
descreveu Naomi Klein no incrível livro A Doutrina do Choque (assista um vídeo a respeito).
Em outras palavras, o "capitalismo de patota" é a permissão para que
determinados grupos se utilizem da ladainha do livre-mercado, para
esfolarem sem dó nem piedade o povo do país que é a bola da vez.
Afinal, é necessário haver uam contraprestação para a bondade da
América e de Israel em estimular a "democraicia" naquele país. Bem
sabemos como é importante para o governo judeu, um contrapeso aos
"terroristas" árabes.
Sendo assim, convém esperar. Além de a tal democracia do Egito não
acontecer de jeito nenhum (só se for em outra vida), os militares que
herdaram o poder que Mubarak não aguentava mais sustentar, farão os
leilões no momento adequado.
Post tirado do blog "Anais Politicos" (http://anaispoliticos.blogspot.com/2011/02/egito-venda.html)
Postado originalmente no dia segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011.
Postado originalmente no dia segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011.